Foram 30 dias longe dos seus territórios, familiares e longe dos seus modos de vida tradicionais, superando desafios para encarar uma formação de eletricista com carga horária de 120h, em Boa Vista, 15 mulheres indígenas de várias regiões e povos de Roraima, concluíram o curso de eletricista predial e residencial, tornando-se as primeiras mulheres indígenas eletricistas do Estado a terem essa formação que, antes, era destinado somente para homens e poucas mulheres, principalmente indígenas.

O curso, fruto de uma parceria entre o Conselho Indígena de Roraima (CIR) por meio do Departamento de Mulheres Indígenas, o Instituto Socioambiental(ISA) e o Centro Tecnológico de Energia Solar (Solares), encerrou na comunidade indígena Canauanim, na terra indígena Canauanim, com aula prática e a entrega do certificado. A cerimônia ocorreu no último dia 16 de agosto, com a presença de familiares, coordenadoras regionais de mulheres, lideranças da região Serra da Lua e da comunidade.

Como atividade prática elas fizeram a instalação da energia elétrica da Casa Intercultural das Mulheres Indígenas da comunidade indígena Canauanim. No local, além de funcionar a comercialização dos artesanatos, também funcionará o trabalho de panificação e outros produtos alimentícios das mulheres da comunidade, uma casa dedicada a acolher os trabalhos e a fortalecer as lutas pela autonomia e o  empoderamento, além de combater os diversos tipos de violências que as mulheres da comunidade Canauanim passam no dia a dia.

Foram 30 dias longe dos seus territórios, familiares e longe dos seus modos de vida tradicionais, superando desafios para encarar uma formação de eletricista. Foto: Mayra wapichana.

Na cerimônia de certificação, momento celebrado com emoção, as eletricistas indígenas representantes de cada região, Serra da Lua, Amajari, Alto Cauamé, Tabaio, Serras, Surumu, Raposa, Baixo Cotingo e Murupu, reafirmaram o compromisso de levar o conhecimento para dentro de suas bases, comunidades e regiões, sobretudo reafirmaram a capacidade das mulheres de também ser uma eletricista. “ Com muito orgulho pode dizer que sou uma eletricista e posso também afirmar que se mandar eu fazer alguma, eu faço, porque passei um mês e em um mês aprendi sim”, afirmou Kessia Rodrigues da Costa, da comunidade indígena Malacacheta, região da Serra da Lua, no discurso de agradecimentos aos organizações do curso.

A eletricista Graciele da Silva Costa, da comunidade indígena Pium, região do Tabaio, afirmou ter orgulho de fazer parte dessa trajetória histórica. “ Eu me sinto orgulhosa de fazer parte dessa história”, disse ao agradecer suas lideranças indígenas na indicação, assim como a equipe técnica de profissionais. Da região das Serras, da comunidade indígena Maturuca, Valcicleia Pereira Alves também agradeceu suas lideranças e já familiarizada com a área, afirmou que o curso aprimorou mais os seus conhecimentos.

Na cerimônia de certificação, momento celebrado com emoção, as eletricistas indígenas representantes de cada região. Foto: Mayra wapichana. 

Confirmando que não é só o homem que tem a capacidade de se formar em eletricista, mas também as mulheres, Eliana Salomão Galé. “ Estamos concluindo esse curso muito importante, porque não é só os homens que têm essa capacidade, mas as mulheres também têm”, disse.

“Eu nunca tive essa oportunidade para aprender. No meu sonho era difícil acreditar porque para mexer com eletricista é muito perigoso, mas cheguei ao ponto de dizer hoje, que eu tenho capacidade para continuar, ser uma mulher eletricista. Nessa idade, tenho orgulho de mim mesma”, afirmou Olinda Pereira Gentil, da comunidade indígena Raimundão I Alto Cauamé.

A cerimônia contou com a presença do líder Clóvis Ambrósio, da comunidade indígena Malacacheta, região da Serra da Lua, um dos fundadores da organização Conselho Indígena de Roraima (CIR). “ Sinto agradecido por terem me convidado para participar desse momento importante. É uma satisfação muito grande ter essas mulheres capacidades para orientar em relação ao perigo de ter essa energia. Quantos já não se foram por falta de conhecimento e por falta de orientação dessa famosa energia que tanto a gente briga, mas também ela mata. Para vocês que fizeram esse curso, parabéns para vocês”, parabenizou Clóvis Ambrósio.

A cerimônia contou com a presença do líder Clóvis Ambrósio, da comunidade indígena Malacacheta, região da Serra da Lua. Foto: Mayra Wapichana. 

“É um momento tão histórico, é um momento tão emocionante. Creio que cada mulher que está aqui veio com grandes desafios, porque em meio ao choro, ao meio e ao desafio, todas se prontificaram a estar aqui”, refletiu a Tuxaua do Movimento de Mulheres Indígenas de Roraima, Kelliane Wapichana, ao lembrar da trajetória de construção e execução do projeto, juntamente com o Instituto Socioambiental (CIR).

O professor e técnico em eletricidade, profissional com experiência de mais de 30 anos, Paulo Soares, do Centro Tecnológico de Energia Solar (Solares), satisfeito com os resultados, disse que continua à disposição para levar conhecimento e capacitar-se cada vez mais. “ Como professor, posso dizer que estaremos sempre disponíveis dentro da área do nosso conhecimento a levar informações, tirar dúvidas e sempre dispostos a colaborar”, disse. 

O analista socioambiental do Instituto Socioambiental (CIR), ao agradecer a parceria e pelos resultados, também expressou a satisfação pelo resultado. “ A formatura das mulheres eletricistas indígenas a gente conseguiu. A gente pensou lá atrás, sonhou, escreveu o projeto, conseguiu recursos, arrumou os parceiros, fez o planejamento, a organização e chega neste dia, que alegria ver uma coisa assim. Como fico feliz de fazer parte dessa história com vocês”, expressou Ciro Campos.

A formação das mulheres indígenas eletricistas reafirmou que tudo é possível, especialmente, às mulheres e não existe barreiras para alcançar sonhos, sonhos que vão do individual para o coletivo. Foi uma primeira fase e a organização já aponta novos sonhos e planejamentos às 15 mulheres e outras que virão somar essa trajetória histórica.

A atividade foi coordenada pela tuxaua geral do Movimento de Mulheres Indígena do CIR, Kelliane Wapichana, da assistente do Departamento de Mulheres, Kaline Mota, além do analista ambiental do ISA, Ciro Campos e equipe técnica do Centro Solares. Foto: Mayra wapichana. 

A atividade foi coordenada pela tuxaua geral do Movimento de Mulheres Indígena do CIR, Kelliane Wapichana, da assistente do Departamento de Mulheres, Kaline Mota, além do analista ambiental do ISA, Ciro Campos e equipe técnica do Centro Solares. A participação e atuação de Kaline Mota, juntamente às mulheres, foi fundamental durante os 30 dias. Kaline, que acompanhou desde a organização, mobilização e execução do projeto, também considera que a ação foi um sucesso e espera poder continuar realizando mais sonhos, principalmente das mulheres.

“Estive acompanhando de perto cada aprendizado de cada uma e a vontade de realmente aprender a fazer uma instalação sozinha. Foi um mês de muita dedicação de todas, nos últimos dias do curso onde fizeram toda a instalação da casa intercultural das mulheres indígenas na comunidade indígena Canauanim. Foi um momento histórico e importante às mulheres e gratificante ter tido a oportunidade de acompanhá-las. Sinto orgulho e nos encorajar a continuar a caminhada pela realização de muitos sonhos, principalmente das mulheres”, considerou.

Ao receberem o certificado, as primeiras mulheres indígenas eletricistas, reafirmam compromisso de retornarem às suas comunidades e colocar em prática o que aprenderam ao longo desses 30 dias de curso.

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Fonte: https://cir.org.br/site/2024/08/26/parceria-entre-o-cir-isa-e-solares-forma-as-primeiras-mulheres-indigenas-eletricistas-em-roraima/

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