Atualmente, há mais de 40 mil voluntários cadastrados no programa, criado para responder a emergências
SÃO PAULO
A situação emergencial das comunidades yanomamis, em Roraima, onde indígenas foram encontrados com desnutrição severa e diagnosticados com doenças como malária, colocou em evidência um braço da saúde pública que já atuou em mais de 60 missões pelo país.
Criada em 2011 para responder a situações de calamidade, a Força Nacional do SUS (Sistema Único de Saúde) esteve presente, por exemplo, no atendimento às vítimas do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), em 2013, na resposta ao rompimento das barragens de Mariana (MG), em 2015, e de Brumadinho (MG), em 2019, e na pandemia da Covid-19.
Formado por funcionários públicos e voluntários de diversas áreas, o grupo tem o objetivo de atuar quando um estado ou município afetado por um desastre estiver com capacidade de resposta esgotada.
Ao ser solicitada, a Força Nacional do SUS também atua na assistência em situações epidemiológicas e de desassistência à população, como ocorreu no pico da imigração de haitianos, e na gestão de grandes eventos como a Copa e as Olimpíadas do Rio.
São profissionais de diversos estados do Brasil e com diferentes vínculos empregatícios, de acordo com Nilton Pereira Junior, diretor do Departamento de Atenção Hospitalar, Domiciliar e Urgência do Ministério da Saúde.
Eles desempenham a função assistencial no território por de sete a dez dias. O período pode ser prorrogado em casos excepcionais.
Atualmente, há mais de 40 mil voluntários cadastrados no programa, segundo o Ministério da Saúde. Eles não são remunerados. Recebem apenas ajuda para transporte, alimentação e estadia.
No grupo, há profissionais do serviço público e privado, de instituições filantrópicas e também autônomos.
Um deles é o médico emergencista Antonio José Marinho Cedrim Filho, 45, que já esteve em algumas missões, mas classifica a crise dos yanomamis como a mais complexa.
“Entre os principais desafios está a comunicação com a população indígena, o acesso, a cultura e as crenças dessa população“, afirma ele, que é regulador e intervencionista do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) Macro Norte e médico do Suporte Aéreo Avançado de Vida de Minas Gerais.
Quando a equipe chega ao local onde há situação de emergência, afirma Cedrim Filho, o primeiro passo é identificar os riscos existentes. Caso haja algum risco, ele explica que a equipe se afasta para manter sua segurança e retorna assim que o perigo esteja controlado.
Antes das ações em campo, normalmente são realizados treinamentos. Pereira Junior afirma que, na missão na Terra Indígena Yanomami, os voluntários recebem orientações sobre antropologia e cultura da etnia.
Eles também foram capacitados para atendimento aos casos de malária nas regiões endêmicas e receberam instruções para atuação em casos de desnutrição grave em crianças.
Professora de saúde pública da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a médica Ligia Bahia ressalta que certos tipos de atendimento devem ser realizados por especialistas para não complicar ainda mais a situação das vítimas.
“Ficamos muito preocupados com a nutrição que estão fazendo [na terra indígena de Roraima]. Não se pode simplesmente chegar e dar água. O problema nutricional é absolutamente emergencial, porque essas pessoas estão correndo risco de vida.”
Ligia elogia o programa, mas lembra que sua utilização deve se restringir a casos de urgência, não para remendar a falta crônica de profissionais em determinadas localidades
Após a declaração de emergência em saúde pública na terra yanomami, em janeiro, 61 voluntários da Força Nacional do SUS foram encaminhados para apoio às ações de assistência entre 23 de janeiro e 16 de fevereiro deste ano, relata o ministério.
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