Novo volume da série tem os ensinamentos do filósofo indígena sobre as relações entre as pessoas e a floresta
Lia Bock
São Paulo
Já passou pela sua cabeça que somos todos parentes? E mais, que somos parentes também dos animais e dos rios? É o pensador dessa edição quem traz essa reflexão para a gente. Se você pensar bem, faz todo o sentido, pois todos somos elementos desse planeta chamado Terra.
Ailton Krenak é um homem indígena e um dos maiores defensores dos direitos dos povos originários e do meio ambiente do mundo. E como ele ensina, pessoas e natureza estão mais interligadas do que pensamos.
“Minha família não é feita só de gente, pois me sinto ligado à beleza e ao encanto dos rios, dos animais e das florestas; me sinto como um bicho, feito de terra, rio, céu, mata e flor”, diz o narrador no 15° exemplar da Coleção Folha Pensadores para Crianças que acaba de chegar às bancas.
É um pouco como a Moana, que, como a gente bem sabe, está totalmente conectada com as águas, com a terra e com os animais. Vocês lembram como as pessoas ficam tristes quando a natureza se apaga?
Sábio, Krenak narra tanto as belezas do conhecimento ancestral como as tristezas de quem observa a natureza ser destruída.
“Perto da minha casa, passa uma linha de trem. Dia e noite, os trens passam carregando pedaços de montanha. Máquinas gigantes destroem o rio Doce para tirar pedras e metais, e essas máquinas sujam a água com venenos perigosos. Isso mata peixes e animais, e põe em risco toda a vida que existe ali”, diz logo nas primeiras páginas.
Ali, conhecemos o desastre ambiental do rio Doce, que em novembro de 2015 foi invadido por lama e dejetos que estavam numa barragem que se rompeu.
Você não sabe o que é uma barragem? Ele explica: “Barragens são como piscinas gigantes, onde colocam uma lama suja, um tipo de lixo que o homem branco faz quando tira coisas das montanhas. Essa mega piscina quebrou todinha e despejou muita sujeira no rio Doce. Isso destruiu a beleza do rio, suas danças, cantos e cores.”
Assim como em outros desastres ambientais, as pessoas tiveram que sair de lá porque a terra ficou contaminada. Mas o povo krenak resolveu ficar. Decidiram que era preciso ter alguém para cuidar do rio e da terra de perto.
“Quando o homem branco rouba parte da natureza, maltrata um animal ou destrói um trecho de rio ou de mata, sinto como se tivesse perdido um amigo ou um pedaço de mim mesmo”, diz.
No livro, ficamos sabendo que foi ainda moço que Krenak resolveu sair de sua aldeia para estudar e conhecer o mundo dos homens brancos de perto. Depois de passado o susto inicial com a correria, ele se tornou filósofo, escritor e uma liderança importante para a defesa dos povos indígenas e também de nós, que sem a natureza não conseguimos existir.
Aprendemos com ele que a sabedoria não está apenas nas universidade e nos estudos, mas também no contato com a terra e nos sonhos —que como ele conta, são um jeito dos ancestrais se comunicarem que quem está por aqui.
Mas se você acha que os indígenas são muito distantes de nós, está enganado. E as palavras que usamos são a maior prova disso. Muito do nosso vocabulário vem deles. Quer ver?
“Pipoca, capim, tamanduá, capivara, jacaré, sagui, jabuti, quati, paca, cutia, siri, tatu, arara, pindaíba, urubu, caju, cajá, mangaba, jenipapo, maracujá, abacaxi, mandioca, pereba, cupim, curumim, mingau, moqueca, paçoca, maracanã, sabiá, sapeca, jururu, inhaca, carioca: todas essas palavras são de origem indígena”, conta ele no livro.
Mas ele também explica que, nem por isso, esses povos são uma coisa só: “Existem mais de 200 povos indígenas diferentes no Brasil, e cada um deles tem sua própria língua e sua própria cultura”.
Uma das maiores belezas do discurso de Krenak é um questionamento que pensadores de muitos cantos do mundo e muitas épocas trazem: “Por que estamos presos à ideia de que tudo o que existe precisa ser útil e precisa estar a serviço do dinheiro?”
COMO COMPRAR
Site da coleção: pensadoresparacriancas.folha.com.br
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