O painel do Padre Antônio Vieira catequizando dois indígenas, em frente a uma das livrarias da Unicamp, no Instituto de Estudos da Linguagem causou grande indignação nas redes sociais, de educadores, estudantes, movimentos e pessoas de todas áreas, que viram no ato reprodução de um pensamento colonial e racista.

Uma das pautas nacionais relacionada as universidades e os povos indígenas é o respeito aos saberes e combate ao pensamento colonial para que sejam estabelecidas práticas descolonizadoras no espaço acadêmico. O material foi retirado do local e o Núcleo de Consciência Negra da Unicamp fez uma nota manifestando seu repúdio.
Nota de repúdio do Núcleo de Consciência Negra da Unicamp
Nós do Núcleo de Consciência Negra da Unicamp manifestamos publicamente nosso repúdio a mais um ato de racismo praticado pela Unicamp. Pois hoje, dia 18 de maio de 2018 (exatamente 5 dias após os 130 anos da falsa abolição), fomos surpreendidos por inúmeras denúncias sobre a preparação do evento UPA (Unicamp de Portas Abertas). A Editora Unicamp fixou um painel que retrata o Padre Antônio Vieira catequizando dois indígenas, em frente a uma de suas livrarias, no Instituto de Estudos da Linguagem.
Tal imagem é correntemente utilizada como um dos retratos da literatura brasileira, sobretudo para referenciar os sermões de Padre Vieira. Todavia, este painel seria usado como forma de “divertimento”, em que as pessoas presentes no evento poderiam ir para o lado de trás do painel e tomar o lugar do rosto dos indígenas, assim os representando. A justificativa inicial para a existência desta atividade foi de que “a editora colocou o painel para a criançada brincar de índio”.
Imediatamente após a fixação deste painel, diversas pessoas manifestaram total indignação ao caso, pressionando a direção do instituto e a editora em questão. Assim, nós, membros do NCN da Unicamp, e uma das diretoras do Sindicato de Trabalhadores da Unicamp seguimos para o local e presenciamos a retirada do material.
Cabe notar que esta atividade pretensamente lúdica reforça uma imagem estereotipada, tanto ao romantizar a história de imposição cultural e colonialista e de massacre das populações indígenas, como também ao apontar para o lugar que estes povos podem estar na nossa universidade, nas “brincadeiras” e “caricaturas”.
Mesmo após a aprovação das cotas raciais e do vestibular indígena, a Universidade Estadual de Campinas erra ao não construir políticas de permanência material e simbólica para os estudantes negros e indígenas que chegarão em maior proporção nos próximos anos. Assim, é de extrema urgência que a universidade, em função de seu caráter público, pense criticamente seu lugar na produção e divulgação de conhecimento
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Cabe à administração central da universidade e à Editora Unicamp apurar e responder a este fato, caso contrário permanecerá sob o silêncio racista que ecoa de forma gritante nas dependências desta universidade.
Núcleo de Consciência Negra da Unicamp
Campinas, 18 de maio de 2018.
Foto: Divulgação.

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