Angelita Prororita Yanomami estava desaparecida um mês antes dos seus restos mortais terem sido encontrados, no início de maio. Ela atuava como tradutora na área de saúde. Na imagem acima, a Casai de Boa Vista onde Angelita trabalhava (Foto: Felipe Medeiros/Amazônia Real).
Boa Vista (RR) – A Hutukara Associação Yanomami informou nesta quarta-feira (31) a morte de Angelita Prororita Yanomami, ex-esposa do líder Dário Vitório Kopenawa, vice-presidente da organização. Na nota, a organização exige que o caso “seja investigado e pede justiça”. A entidade também faz a seguinte solicitação: “pedimos encarecidamente que as imagens de Angelita não sejam difundidas, respeitando a cultura e as tradições do povo Yanomami e o luto da família.”
A Hutukara ainda não informou sobre a data do funeral e onde deve ocorrer a cerimônia tradicional de sepultamento de Angelita. Os Yanomami possuem ritos funerários específicos de sua cultura e cosmologia.
Angelita Prororita Yanomami tinha 35 anos e estava desaparecida há um mês, segundo apurou a Amazônia Real. Seus restos mortais foram encontrados no dia 1º de maio por policiais militares nas proximidades do rio Branco, no chamado Banho Copaíba, na capital Boa Vista, mas somente nesta quarta-feira as autoridades do governo de Roraima confirmaram que se tratava da indígena.
A jovem costumava acompanhar as lideranças Yanomami em eventos e atuava como intérprete da língua de seu povo nos trabalhos da Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai). Ela estava há um mês desaparecida. Angelita deixa uma filha adolescente da sua relação com Dário Kopenawa.
Os restos mortais de Angelita ainda estão no Instituto Médico Legal (IML) de Roraima. A confirmação de que o corpo era de Angelita surpreendeu familiares e amigos. Ainda não se sabe a causa da morte. Em Brasília, acompanhando as mobilizações contra o marco temporal (Projeto de Lei 460), Dário Kopenawa disse que não iria falar sobre o assunto.
Em nota, o Ministério da Saúde diz que “se solidariza com os familiares e toda a comunidade indígena Yanomami pela morte de Angelita Prororita Yanomami”. O órgão confirmou que ela trabalhava como intérprete na Casai do Dsei Yamomami e que “sempre foi muito atuante na luta em defesa dos direitos, por justiça e dignidade das mulheres Yanomami”.
O Ministério da Saúde diz ainda que vai “colaborar com as investigações conduzidas pelas autoridades competentes para que as causas da morte sejam esclarecidas o mais rápido possível”.
A Polícia Civil de Roraima foi procurada pela reportagem para responder sobre os desdobramentos da investigação, mas até a publicação desta reportagem não se pronunciou.
Entidades e lideranças indígenas manifestam pesar
A morte de Angelita ainda sem explicações por parte da Polícia Civil de Roraima foi lamentada por organizações indígenas. A Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) destacou em sua página no Instagram que ela “era uma das defensoras dos diretos do seu povo, na luta contra o garimpo ilegal, que já vitimou centenas de mulheres e meninas na terra indígena Yanomami”. No comunicado, a associação se solidarizou com a família e amigos da intérprete e pediu investigação para que haja justiça.
O Conselho Indígena de Roraima (CIR) também manifestou pesar pela morte da indígena e pediu justiça. A entidade, que representa 465 comunidades em todo o estado, entre elas a Yanomami, disse que “exigirá uma investigação da Polícia Federal, e acompanhamento do MPF, da Funai e Ministério dos Direitos Humanos para uma rápida apuração do caso. Que os mandantes desse crime bárbaro contra uma mulher, sejam responsabilizados e punidos”.
A associação Urihi Yanomami, presidida por Junior Hekurari, disse em nota na sua rede social que foi uma partida cruel e precoce que gera dor e revolta. “Que as autoridades investiguem e os responsáveis sejam encontrados e punidos por tamanha barbárie”. A publicação destaca ainda que Angelita tinha um legado de carinho, respeito e amizades. Por fim, o texto pede encarecidamente que não divulguem imagens dela, respeitando a cultura e tradição do povo Yanomami.
O Instituto Socioambiental (ISA) lamentou a morte de Angelita Proporita Yanomami em um texto publicado no seu site. A nota diz que além da Casai, a intérprete também atuava na maternidade Nossa Senhora de Nazareth em Boa Vista, Roraima. Para o ISA, a indígena era “uma potente voz na defesa dos direitos das mulheres Yanomami e de todo o seu povo”.
Angelita era estudante de odontologia em uma faculdade particular de Boa Vista, informou o ISA. Segundo o Instituto, a intérprete concluiria a graduação este ano e tinha como objetivo retornar ao território e servir ao povo Yanomami. O ISA pede “que as investigações sobre o ocorrido sigam com rigor até que a justiça seja feita”.
Em nota divulgada nesta quinta, a Polícia Civil diz apenas que os restos mortais de Angelita foram confirmados na última terça-feira (30) “após investigação científica, por meio de perícia pela odontologia legal” e que a investigação está sendo feita pela Delegacia Geral de Homicídios.
Esta matéria foi atualizada no dia 1º de junho de 2023
Jornalista multimídia. Foi repórter e apresentador em portais e emissoras de TV em Roraima onde participou de importantes coberturas, como o sarampo no estado, garimpo ilegal, desmatamento no extremo norte, eleições, a crise migratória da Venezuela e a pandemia de Covid-19. Já atuou com jornalismo sindical, em centrais e sindicatos trabalhistas. É formado pela Universidade Federal de Roraima (UFRR). Nas redes sociais defende a democracia e as minorias.
Fonte: https://amazoniareal.com.br/ex-mulher-de-lider-yanomami-e-encontrada-morta-em-boa-vista/
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