Em maio, Alice ecoou sua voz na Europa; em evento, a jovem denunciou a onda de violência contra os povos indígenas e o atual cenário político do Brasil

POR MARTA MAMÉDIO, DO CIMI REGIONAL LESTE

A juventude indígena, principalmente após o avanço das redes sociais, tem tido um papel fundamental nas lutas pelos territórios e pela defesa dos direitos dos povos originários. Os jovens estão cada vez mais ocupando e demarcando telas, universidades e espaços de debates com indígenas e não indígenas. Estão usando essa voz potente e jovem para denunciar no Brasil – e no exterior – as atrocidades da atual conjuntura, apoiada pelo agronegócio, mineração e atual governo.

Em maio, foi a vez da Alice Pataxó, jovem liderança da aldeia Craveiro, Terra Indígena Barra Velha – localizada na Bahia – e influenciadora digital, ecoar sua voz na Europa. A incidência, que foi feita ao lado da Tejubi, jovem liderança do povo Uru eu Wau Wau, teve como intenção denunciar e dialogar sobre a situação política e territorial do Brasil, de modo a entender a respeito da participação do continente europeu perante esse cenário de violência contra os povos indígenas, segundo Alice.

Alice relata que “a União Europeia está em processo de formar uma lei inspirada na Lei de Due Diligence de Paris, a primeira lei do mundo a comprometer empresas e tornar legal o processo contra elas caso seus produtos violem os direitos ambientais e humanos”.

A participação da jovem liderança nessas agendas tem como objetivo colaborar para que os povos indígenas do Brasil participem e cooperem com o diálogo para a formação da lei. “Nós [indígenas] vivemos esses conflitos e conhecemos boas maneiras de rastrear e monitorar áreas devastadas pelas grandes empresas”.

“Nós [indígenas] vivemos esses conflitos e conhecemos boas maneiras de rastrear e monitorar áreas devastadas pelas grandes empresas”

Alice Pataxó falou sobre as grandes empresas que atuam ilegalmente em territórios indígenas no Brasil. Foto: arquivo pessoal/Alice Pataxó

Na viagem também foi abordado o caso do grupo Casino, uma rede francesa de supermercados que atua no Brasil, acusado de comercializar produtos ligados ao desmatamento ilegal da Amazônia.

“É a primeira vez que a lei serve dessa maneira, já que é a primeira vez também que uma rede de supermercados é processada por violação de direitos originários. Existe uma grande necessidade de a gente mostrar que essa lei tem sim uma importância significativa para os territórios. A intenção não é apenas conseguir indenização, mas organizar para que esse povo tenha reflorestamento garantido, que eles parem de fazer essas compras com essas redes que fornecem essas carnes que são produzidas dentro de território indígena ilegalmente”, afirma Alice.

Alice Pataxó denunciou também a JBS, a maior produtora de carne do mundo. De acordo com a jovem, a JBS realiza atividades relacionadas às produções dentro de territórios indígenas. Ou seja, ilegalmente. A lei tem a função de abarcar quem compra esses produtos e também quem vende.

A jovem liderança leva na bagagem também informações de vários territórios indígenas brasileiros, a fim de denunciar as violações e violências que têm ocorrido no Brasil contra os povos, e como essas relações políticas contribuem para o genocídio dos povos originários. Denuncia também o marco temporal, que teve o julgamento adiado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). “Estamos falando sobre isso, porque é prioridade na luta do movimento. E são muitas coisas assim que tratam das questões ambientais e das questões de direitos humanos”.

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) – Regional Leste assessora o povo Pataxó, o qual Alice faz parte. A jovem tem contribuído, inclusive, com a formação da comunicação indígena – mecanismo que possibilita os parentes se defenderem dentro dos territórios. Alice participou também de uma mesa na Alemanha mediada por Madalena Görne, representante da Misereor, entidade da igreja católica na Alemanha, que tem sido de extrema importância no apoio ao Cimi para contribuição com o povo Pataxó. O Cimi Regional Leste apoia e fortalece o protagonismo dessa juventude na defesa da causa indígena.

Fonte: https://cimi.org.br/2022/06/alice-pataxo-jovem-indigena-e-protagonista-na-luta-pelos-territorios/

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