Os guaranis sempre pensaram a ocupação do território para além das restrições e violências históricas sofridas

Txai Suruí

Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental – Kanindé e do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia

Na última quarta, a ministra Sônia Guajajara, com uma comitiva formada por diversas autoridades, visitou a T.I. Jaraguá, em São Paulo, onde vivem os mbya guarani. A T.I. possui 532 hectares, menos de 1% é demarcado, sendo a menor terra indígena demarcada no Brasil.

Os mbya reconhecem este lugar como Itaju Marãe’y, local onde os Tupã Kuery e os Ija Kuery, guardiões da mata, se manifestam para guiá-los em busca da terra sem males (Yvy Marãe’y). Contam os antigos, é neste lugar onde os espíritos bons partem, através dos raios. Um lugar sagrado, que guarda cemitérios deste povo ancestral, perseguido e expulso de seu próprio território para a chegada da maior metrópole da América do Sul.

Apesar disso, os guaranis sempre pensaram a ocupação do território para além das restrições e violências históricas sofridas desde o retorno da família de dona Jandira, entendendo uma ocupação espiritual, mesmo impedidos de circular pelo território, a ocupação prosseguiu pelos espíritos, que têm a montanha como ponto de passagem a terra sem males.

Indígenas guaranis fazem ato contra a PL 490, do marco temporal no Parque Jaraguá – Felipe Iruatã/Folhapress

“Nosso povo sempre foi pertencente a este território, não como posseiros, mas como parte de toda vida material e espiritual. Somos os guardiões da memória e vida de todos os seres que aqui habitam. Garantimos a possibilidade de futuro, nosso nhandereko, modo de vida sagrado, tem como seu principal fundamento sermos protetores deste mundo que compartilhamos com tantos outros, porém não somos protegidos.

Ruas e rodovias atravessam não só nossos corpos, mas todo o nosso sagrado. Adoecendo os rios, limitando nossos passos e nos trazem o fim do silêncio. O barulho viola nossos ouvidos e perturba nossos sonhos.

rodovia dos Bandeirantes ceifou a vida de nossos parentes. São memórias dos corpos sendo arrastados pelos carros. No alto da montanha, a torre da TV Bandeirantes foi instalada e sob sua radiação nascemos. Somos nós o povo originário desta terra.

O bandeirante, traficante de escravos angolano, chegou depois. Mesmo assim, o Estado tenta negar nossa identidade. A ordem vem do Palácio dos Bandeirantes e a polícia nos violenta. Eles continuam a tentar nos matar. Fomos semeados na luta de nossos ancestrais e continuamos a resistir.

Nosso direito é originário. É garantido na Carta Magna deste país. Cumprimos com nossas obrigações perante ao Estado, mas nosso direito é negado.

Conquistamos o estudo de demarcação e buscamos dialogar no processo jurídico, mas o interesse político intercede. Nos surpreendemos com ações inconstitucionais movidas por aqueles que cobiçam nosso território e tentam nos invisibilizar. Com essa visita esperamos que o poder público comece a nos enxergar”, Karai Djekupe, xondaro da T.I Jaraguá.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/txai-surui/2023/07/sp-terra-indigena.shtml

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