Senadora é relatora de projeto de lei apelidado de ‘pai das boiadas’, por flexibilizar regras

Ana Carolina AmaralGLASGOW (ESCÓCIA)

A senadora Kátia Abreu (PP-TO) foi surpreendida por jovens brasileiros em frente ao pavilhão oficial do Brasil na COP26, nesta terça-feira (9). Ela recebeu uma caixa preta com a mensagem contrária ao projeto de lei 2.159/2020, que revisa a lei geral de licenciamento ambiental.

“Qual é o 2.159? Licenciamento?”, perguntou a senadora, que é relatora do projeto no Senado. A jovem indígena Jaciara Borari, 26, respondeu então que barrar a “boiada” é uma missão possível. Em resposta, a senadora sorriu e lhe deu um beijo na testa.

​”Fica tranquila, nada faremos contra nossa Amazônia”, disse a senadora, despedindo-se do grupo.

O escopo do projeto, no entanto, é mais amplo do que o bioma amazônico e dispensa a maior parte dos empreendimentos de licença, avaliação e vistoria —o que lhe rendeu o apelido de “pai das boiadas” entre ambientalistas.

Aprovado pela Câmara dos Deputados no último maio, gerou alerta até de investidores internacionais. Para Abreu, o principal desafio na sua relatoria está nas decisões sobre obras de infraestrutura.

A senadora participa da COP26, junto a um grupo de parlamentares que elogia a nova postura do governo brasileiro na pauta ambiental.1 15

Imagens aéreas mostram garimpo ilegal na Amazônia

Em sobrevoo realizado em maio de 2020, em Roraima, Greenpeace registrou invasão de garimpeiros na Terra Indígena Yanomami. O desmatamento nas terras indígenas aumentou 64% nos primeiros quatro meses de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019. Por estarem dentro ou circulando por esses territórios, garimpeiros, madeireiros e invasores são potenciais transmissores da Covid-19 para os indígenas.

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Os jovens consideraram receptiva a reação de Abreu. Segundo a ONG Engajamundo, que criou a ação, a entrega da “caixa com a mensagem ‘missão possível’ foi inspirada em filmes de espiões, que recebem as missões em cartas e envelopes”.

Quando era ministra da Agricultura, em 2010, Kátia Abreu havia recebido de ambientalistas o antiprêmio Motosserra de Ouro, por seu incentivo à flexibilização do Código Florestal. No último maio, ela declarou que iria transferir seu prêmio ao então ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente).

“Pelo menos eu era ministra da Agricultura”, disse em tom irônico em vídeo nas suas mídias sociais.1 7

Entenda por que a COP26 é essencial no combate à crise do clima

Organizações formadas por jovens brasileiros também têm experiência em premiar líderes políticos com títulos irônicos.

Em 2019, Salles ganhou o prêmio Exterminador do Futuro, do movimento Jovens pelo Clima. No fim de 2019, o antecessor no ministério do Meio Ambiente, Edson Duarte, levou o título do Último que Liga para o Clima. Em 2016, o então ministro da Agricultura, Blairo Maggi, ganhou um colar de pérolas, por declarações que minimizaram conflitos ambientais.

A jornalista viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2021/11/na-cop26-indigena-leva-beijo-na-testa-ao-pedir-que-katia-abreu-impeca-boiada.shtml

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