Vídeo-documentário Pelas Águas do Rio de Leite, que será exibido nesta terça (4/9), as 20h30, no CineSesc, em São Paulo, registra expedições pelos rios Negro e Uaupés, que percorreram locais sagrados para os povos indígenas da família tukano na Terra Indígena Alto Rio Negro, noroeste amazônico. A entrada é gratuita e ingressos devem se retirados com uma hora de antecedência

Nesta terça-feira (4/9), o ISA (Instituto Socioambiental) e a Foirn (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro) promovem o lançamento do filme Pelas Águas do Rio de Leite, no CineSesc, em São Paulo. O documentário é fruto de uma experiência de registro de lugares sagrados e narrativas de origem dos povos indígenas da família tukano do Alto Rio Negro (AM).

A exibição será seguida de um bate-papo com a diretora do filme, a antropóloga do ISA Aline Scolfaro, e dois conhecedores indígenas e participantes protagonistas do documentário como Higino Tenório Tuyuka, que coordenou as duas expedições pelos rios Negro e Uaupés, e Miguel Pena Tukano.

Além do ISA e da Foirn, a produção do filme contou também com a importante parceria do Vídeo nas Aldeias, tanto na fase de captação quanto no processo de edição. Teve também o apoio do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), do Museu do Índio, da Funai (por meio da Coordenação Regional Rio Negro) e da Fundação Rainforest da Noruega.

https://www.facebook.com/pelasaguasdoriodeleite/videos/1756675807711439/

As viagens da Cobra-Canoa

Entre 2013 e 2015, um grupo de conhecedores do Alto Rio Negro, no Noroeste da Amazônia, pertencentes à diversas etnias da família linguística Tukano Oriental, embarcou em duas expedições pelos rios Negro e Uaupés com o intuito de refazer parte da rota de origem e de transformação de seus ancestrais.

Segundo contam os conhecedores, esses primeiros ancestrais chegaram à região do Alto Rio Negro depois de uma longa viagem subaquática pelos rios Amazonas, Negro e Uaupés, realizada no ventre de uma Cobra-Canoa. Ao longo desse percurso foram parando em vários lugares importantes, onde obtiveram os conhecimentos necessários para a vida de seus descendentes nessa Terra. Foi com o intuito de recontar essa história que o grupo de conhecedores embarcou nessa aventura.

A primeira expedição, realizada em 2013, percorreu mais de 800 quilômetros pelo curso do Rio Negro, desde sua foz na cidade de Manaus até o município de São Gabriel da Cachoeira (AM), na fronteira com a Colômbia e a Venezuela. Foram identificados 23 lugares importantes e, em cada parada, os conhecedores dos diversos grupos participantes da viagem narravam suas histórias e os eventos aí ocorridos, sempre destacando o nome do lugar em sua língua e os tipos de conhecimentos, técnicas, artefatos e outros bens rituais que teriam lá se originado: encantações de cura, cantos, danças, substâncias de uso cerimonial, enfeites de penas e outros tantos objetos de valor ritual e cotidiano.

Visita à Casa da Lua, no Baixo Uaupés, conjunto de rochas relacionadas às flautas sagradas de jurupari|Aline Scolfaro-ISA

Na segunda expedição, em 2015, foram cerca de 200 quilômetros percorridos, começando pelo trecho alto do Rio Negro nas imediações da cidade de São Gabriel da Cachoeira e entrando pelo Rio Uaupés até chegar à Cachoeira de Ipanoré. É esse o ponto em que os primeiros ancestrais emergiram para esse mundo como seres humanos verdadeiros e passaram a povoar o território onde hoje vivem os diversos grupos da família tukano.

Ao longo dos mais mil quilômetros percorridos pelas duas expedições, acompanhadas por uma equipe de cinegrafistas (indígenas e não-indígenas) e mais alguns pesquisadores e interlocutores não-indígenas, foram visitados mais de 60 lugares sagrados e produzidas quase 300 horas de gravações.

Pelas Águas do Rio de Leite é, portanto, um retrato dessa importante experiência e apenas uma amostra da enorme riqueza das paisagens do Rio Negro e do complexo conjunto de conhecimentos que permeia a vida e a história desses povos.

O que é o Projeto Mapeo

As expedições e o documentário fazem parte de uma iniciativa mais ampla de mapeamento, documentação e salvaguarda dos lugares sagrados e conhecimentos associados dos povos indígenas que vivem no Noroeste Amazônico, região de fronteira entre Brasil e Colômbia. A iniciativa vem sendo articulada já há quase 10 anos por uma rede de instituições (entre ONGs e órgãos governamentais) e associações indígenas que atuam do lado brasileiro e colombiano e têm por missão colaborar com o fortalecimento e proteção do patrimônio cultural dos povos indígenas dessa região transfronteiriça da Amazônia.

Fonte: https://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/estreia-em-sao-paulo-o-documentario-pelas-aguas-do-rio-de-leite

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