O sociólogo vê condições para que a denúncia de genocídio em Haia seja reforçada com relatório do Cimi sobre a violência contra os povos indígenas

“É uma tragédia e um genocídio anunciados. Eles foram premeditados e intencionalmente escolhidos para que acontecessem desse modo”, destaca Jessé Souza. Foto: Sesai/Divulgação

São Paulo – O sociólogo e escritor Jessé Souza afirmou não ter dúvidas de que o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro cometeu crime de genocídio durante os quatro anos de sua gestão. Em sua coluna no ICL Notícias, transmitida pela TVT e pela Rádio Brasil Atual, o intelectual defendeu a inclusão do relatório Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil nos autos do processo movido contra Bolsonaro pelo movimento indígena no Tribunal Penal de Haia.

documento, divulgado ontem (26) pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), aponta a naturalização do genocídio indígena pelo governo anterior. Segundo os autores, que fizeram uma retrospectiva do período de 2019 a 2022, houve aumento “crescente e assustador” da violência contra os povos indígenas. Principalmente contra as crianças indígenas. Ao menos 3.552 crianças de até 4 anos vieram a óbito nos últimos quatro anos. Os dados alarmantes estão baseados em registros da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).

Desse total, 1.500 mortes eram facilmente evitáveis. O relatório mostra que 559 foram causadas por influenza e pneumonia. Outras 218 por diarreia, gastroenterite ou doenças infecciosas intestinais, assim como 165 por desnutrição e anemias nutricionais. E 115 por transtornos respiratórios e cardiovasculares específicos do período perinatal. Mais 104 foram constatadas por infecções específicas do período perinatal. “Ou seja, falta de uma assistência mínima”, critica Jessé Souza.

Tragédia contra os Yanomami

“Isso é assassinato, genocídio. Ele não acontece apenas quando você mata, ele acontece do mesmo modo e com o mesmo resultado quando você deixa morrer. E foi exatamente isso que aconteceu. Em 2021, ele (Bolsonaro) já tinha sido avisado que a situação era de destruição enorme, mas ele não fez nada. Ele deixou morrer. Ele tinha a opção, foi informado, e ele não tomou nenhuma atitude. Ao contrário, no ano seguinte, em 2022, ele cria, pasmem, um programa de apoio ao desenvolvimento da mineração artesanal. Ou seja, estimulando o garimpo ilegal por ato do governo na Amazônia Legal”, aponta.

O sociólogo acrescenta que medidas do governo Bolsonaro permitiram o avanço de práticas ilegais e destrutivas tanto do meio ambiente como das comunidades. Ele destaca a situação de tragédia humana, demonstrada no início do ano pelo novo governo, na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. A maior TI do Brasil chegou a uma situação de emergência sanitária, com crianças, adultos e idosos em condições dramáticas de saúde, vitimados por doenças como malária e pneumonia, além de desnutrição e contaminação por mercúrio.

Considerando o período de quatro anos, o relatório do Cimi observa que 17,5% de todas as mortes de crianças indígenas ocorreram no Distrito Sanitário yanomami. Foram 621 casos. No ranking dos estados, é o Amazonas que lidera: 1.014 óbitos.

Denúncia internacional

“Então é uma tragédia e um genocídio anunciados. Eles foram premeditados e intencionalmente escolhidos para que acontecessem desse modo. Isso precisa ter alguma forma de resultado jurídico. Ele (ex-presidente) está sendo julgado em Haia, e isso (relatório) deve se somar ao autos do processo porque é um processo de genocídio. Essas estatísticas põem luz às imagens absurdas que vimos meses atrás na Terra Yanomami”, adverte Jessé Souza.

Em quatro anos, o Cimi também registrou 795 assassinatos de povos indígenas. Houve ainda 407 registros de conflitos por direitos territoriais, ataques, pressões e disputas sobre os territórios dos povos originários e 1.133 invasões em terras indígenas, com exploração ilegal de recursos naturais e danos diversos ao patrimônio.

Fonte: https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/com-bolsonaro-mortes-de-criancas-indigenas-cresceram-foram-deixadas-para-morrer-diz-jesse-souza/

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