Estive pessoalmente em vários garimpos espalhados pela Amazônia. Várias vezes no maior e mais famoso deles, o de Serra Pelada, incluindo seus satélites na província mineral de Carajás. Nada parecido aos que se instalaram ilegalmente nas áreas Yanonami, em Roraima. A brutalidade característica desse tipo de trabalho alcançou as profundezas da maldade. O estupro e morte de uma criança e o provável assassinato de outra criança, atirada ao rio, devem servir de marco do fim de qualquer forma de compreensão e tolerância.

Esses garimpeiros, mesmo que alguns deles disso não tenham consciência, se tornaram extensão de organizações criminosas, como o PCC paulista, poderosas e selvagens. O garimpo deixou de ser, bem ou mal, uma simples unidade de produção de ouro (e diamante) e um centro de consumo de drogas. Virou um anexo de autênticas empresas do crime, que assaltam e matam nas cidades e nas frentes pioneiras. Instalaram um autêntico front de guerra nos garimpos, que lhes fornecem bens de alto valor e de difícil rastreamento e ainda possibilitam a lavagem de dinheiro.

Cabe então ao Ministério Público Federal, titular da ação penal pública e fiscal da lei, responder à altura da tragédia que se expande aos nossos olhos: convocar as forças armadas para uma operação conjunta (de guerra) que feche todos os garimpos ilegais em atividade na Amazônia, começando por Roraima. Empregando tropas, armas e logística capazes de intimidar quem quiser resistir e, se resistir de fato, sofrer as consequências, conforme as leis de guerra.

Exército, Marinha e Aeronáutica fariam uso dos seus próprios meios combinados (por ar, água e terra) para expulsar todos aqueles que dilapidam o patrimônio público e praticam violências contra os índios e os demais nativos da região. Instalações encontradas nesses locais seriam destruídas e as pessoas encontradas ali presas e imediatamente submetidas a processos pelos representantes da lei.
Mas tem que ser já. A Amazônia agradeceria.


A imagem que ilustra este artigo é de autoria de Bruno Kelly/Amazônia Real e mostra área de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami.

Lúcio Flávio

 Lúcio Flávio Pinto

Lúcio Flávio Pinto é jornalista desde 1966. Sociólogo formado pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em 1973. Editor do Jornal Pessoal, publicação alternativa que circula em Belém (PA) desde 1987. Autor de mais de 20 livros sobre a Amazônia, entre eles, Guerra Amazônica, Jornalismo na linha de tiro e Contra o Poder. Por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças sociais, recebeu em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace. Em 2005 recebeu o prêmio anual do Comittee for Jornalists Protection (CPJ), em Nova York, pela defesa da Amazônia e dos direitos humanos. Lúcio Flávio é o único jornalista brasileiro eleito entre os 100 heróis da liberdade de imprensa, pela organização internacional Repórteres Sem Fronteiras em 2014. Acesse o novo site do jornalista aqui www.lucioflaviopinto.com.

Fonte: https://amazoniareal.com.br/guerra-ao-garimpo-ilegal/

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