O Brasil ultrapassou este mês a marca de mais de 513 mil pessoas mortas pela Covid-19. Neste número estão registrados 252 indígenas que morreram dessa doença no estado do Amazonas, sendo dois parentes da etnia Parintintin, conforme os dados da pandemia que estão no site da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
O novo coronavírus atingiu a Aldeia Traíra, do povo Parintintin, em 2020. Um surto desta doença com nome estranho dados pelos não-indígenas atingiu nosso povo. Nós ficamos em isolamento total por um período de quatro meses. Foi um sacrifício enfrentar esta pandemia.
Na Aldeia Pupunha, perdemos o ancião Elias Parintintin, que não suportou o vírus. Tivemos que mudar a rotina normal. Apenas recebemos na aldeia as pessoas que ajudassem na prevenção do coronavírus, a equipe da saúde indígena, Funai, educação. Assim estamos enfrentando esta pandemia.
Este ano voltamos às nossas atividades normais como era antigamente. A gente só ia à cidade por necessidade. Neste período as nossas atividades na Terra Indígena 9 de Janeiro, que fica no sul do Amazonas, era a prática para a sobrevivência diária do povo indígena: caçar, pescar e colheita de frutas, além das atividades de feitio de roças e plantações.
Para a segurança da população a barreira na entrada do território permanece para que as pessoas de outros lugares não entrem na aldeia até que esta pandemia se acalme.
A comunicação neste período é por via de internet graça a Organização do Povo Indígena Parintintin do Amazonas (OPIPAM), que ajudou bastante com projetos para população indígena com cestas básicas e materiais de higiene.
A saúde é essencial na qualidade de vida, a qual é fundamental para todos os seres humanos. Mas quando se fala em saúde nas aldeias aí vem as consequências: qualificação profissional nesta área da saúde, local adequado para atendimento dos parentes doentes e outros. No passado já enfrentamos as más condições de atendimento e não é diferente com a pandemia.
Em pleno século 21, o povo indígena sofre com a falta de atendimentos e remédio para suprir as necessidades básicas dentro das aldeias. Na Aldeia Traíra, onde vivem 450 pessoas, tem um atendimento um pouco razoável, com alguns profissionais da saúde como: médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem que uma vez por mês fazem essa rotina, onde poderia ser mais.
Não temos uma farmácia, apenas uma casa com um armário para atendimento com remédios básicos deixados pela equipe para a agente de saúde indígena atender em caso que alguém necessite. Poderia ser muito mais na Aldeia Traíra.
Artesanato une todos
Mulheres e homens Parintintin estão vivendo no isolamento social por causa da pandemia (Foto de Jociane Parintintin/Amazônia Real)
Neste período de pandemia do novo coronavírus, o povo Parintintin não parou de confeccionar o artesanato, como pulseiras, cocares (adornos), colares, brincos e anéis. Esses artesanatos são feitos de sementes de tucumã, como os anéis e pulseiras, e penas de aves, como os cocares e brincos. São as mulheres que confeccionam e vendem as peças para contribuir com a renda da comunidade. Na floresta, são elas e eles que coletam a matéria prima individualmente.
Crianças e jovens estão envolvidos nas tarefas do artesanato na Aldeia Traíra (Foto de Jociane Parintintin/Amazônia Real)
*Segundo a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), o número de indígenas contaminados e mortos pela Covid-19 é maior do que os dados apresentados pelo governo federal, que não incluiu na estatística os indígenas que vivem no contexto urbano e não são atendidos pelos Dseis.
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