Desde o ano passado, indígenas do povo Warao, que vivem em Belém e em Ananindeua (PA), e comunicadores do Conselho Indígena de Roraima (CIR) e da Rede Wakywai, que atua a partir do estado de Roraima, iniciaram um projeto de fortalecimento da comunicação como ferramenta para combater os efeitos da pandemia de COVID-19 e da desinformação sobre o assunto.

A ação se dá no âmbito do projeto “Redes de comunicação indígena: tecendo laços contra a COVID-19” promove o diálogo entre comunidades e poder público para discutir questões sobre a saúde indígena, além de identificar e combater a desinformação que piora os efeitos da pandemia de COVID-19. Implementado pelo CIR e pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), a ação é apoiada pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), a Iniciativa de Novos Parceiros – Ampliando Parcerias em Saúde (NPI EXPAND) e SITAWI (Finanças do Bem).

Formações – Em outubro do ano passado, o IEB e o CIR promoveram o Encontro da Rede de Comunicadores da Rede Wakywai, na Comunidade Indígena Serra da Moça, região Murupú, próxima a capital Boa Vista (RR).

O encontro contou com a participação de cerca de 30 comunicadores das regiões Serra da Lua, Tabaio, Murupú, Serras, Raposa, Baixo Cotingo, Surumú, Amajarí e São Marcos, além do Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol (CIFCRSS), com os povos Macuxi, Wapichana, Taurepang e Yekuana.

A ocasião foi um importante momento de discussão sobre a medicina tradicional indígena, com seus saberes geracionais e o quão é fundamental que os mais jovens se apropriem desse conhecimento.

No evento, discussões sobre etnomídia indígena e o protagonismo dos comunicadores foram pautadas e levantadas, com Anapuaká Tupinambá, da Rádio Yandê. “Fiquei impactado ao encontrar um grupo de comunicadores indígenas na região norte do país, que tem uma diversidade étnica mais que uma colaboração, pessoas fundamentadas, compromissadas com a comunicação indígena. Essa geração que eu posso dizer com toda propriedade, deve ser a quarta geração de comunicadores indígenas desde os anos 80. Mas elas abraçam e chegam com muita energia. Eu fico muito feliz de estar aqui para poder colaborar falando da etnomídia indígena”, afirmou Anapuaká.

Participantes do encontro da Rede Wakywai, na comunidade Serra da Moça (RR)

Com os Warao do Pará, foi realizado um primeiro módulo de formação para os comunicadores indígenas sobre Letramento Digital, realizado em novembro de 2022 em parceria com o Coletivo Casa Preta. O segundo módulo ocorreu durante um intercâmbio com comunicadores indígenas do estado de Roraima, voltado para a produção de peças de comunicação, em fevereiro deste ano.

Intercâmbio – Troca de saberes, experiências e compartilhamento de vivências sobre a realidade dos povos indígenas no Brasil marcaram o encontro que reuniu cerca de 20 indígenas do povo Warao com o departamento de comunicação do Conselho Indígena de Roraima (CIR) e a Rede Wakywai de comunicadores indígenas (RR), em Belém (PA), entre os dias 14 a 16 de fevereiro.

Na ocasião, uma roda de conversa sobre redes de comunicação indígena foi discutida entre os presentes, além de oficinas para captação e edição de vídeo, fotografia e produção de cards para incidência comunitária. “Aprendi a criar um vídeo, algo que eu não sabia, também conheci outras pessoas indígenas como eu, não é apenas o vídeo e o card, mas toda a experiência em si, gostei bastante”, afirmou Eliesel Gomez, do povo Warao, sobre o encontro.

Vivem em Belém e Ananindeua (PA) hoje, cerca de 800 indígenas Warao, em oito comunidades. A organização desse povo indígena surgiu em 2022, o Conselho Warao Ojiduna, sendo uma das primeiras organizações dessa etnia em deslocamento no Brasil, engajados na luta pelo seu reconhecimento como povo indígena no território brasileiro. “A identidade dos Warao tem sido muito abalada pela condição de refugiado, e da não valorização da questão indígena, mas eles são um povo indígena, com direitos e também como um povo da América Latina, que estava aqui antes da existência de qualquer Estado, de qualquer fronteira”, comentou Clémentine Maréchal, Analista Socioambiental do IEB.

Luísa Cooper e Victor Gonzalez, indígenas Warao, em exercício de audiovisual

Assim, o encontro representou um momento de integração e da fraternidade com outros parentes e fortalecimento da identidade indígena dos Warao, que trocaram experiências sobre os desafios em comum também vivenciados por outros povos no Brasil.

“Temos muito ainda a contar sobre as nossas histórias, nossas capacidades como povos de proteção territorial, ambiental e soluções climáticas que somos. Nós conversamos há  tempos sobre isso, mas não nos ouvem como não ouvem hoje os Warao, todos ainda temos uma caminhada muito difícil e como todo povo indígena entende e sabe o que é passar e vencer dificuldades, há mais de 500 anos sobrevivemos a tudo o que nos foi lançado e não será diferente aos Warao ou a qualquer outro povo”, diz Caíque Souza Wapichana, assessor de comunicação do CIR.

Jacir Souza (Rede Wakywai), Caique Souza (Comunicação do CIR) e Mariluz Mariano (Conselho Warao Ojiduna).

Comunicação Indígena – As atividades formativas e o intercâmbio contribuíram para formação política e capacitação técnica em ferramentas de comunicação. Discussões sobre Direitos Indígenas e autorização por uso de imagem foram realizadas.

Hoje, redes de comunicadores indígenas têm se formado pela América Latina a fim de mostrar a realidade vivenciada pelos povos originários e dar visibilidade para as suas pautas. A comunicação indígena tem sido uma arma estratégica de luta.

“Uma rede de comunicadores indígenas é muito importante para dar visibilidade às nossas pautas, às culturas, à sustentabilidade e denunciar as irregularidades dentro dos nossos territórios, sendo também uma forma de nos fortalecer para garantia dos nossos direitos”, afirma Jacir José de Souza, do povo Macuxi e comunicador da Rede Wakywai de Comunicadore Indígenas de Roraima.

No caso do projeto “Redes de comunicação indígena: tecendo laços contra a COVID-19”, as redes de comunicadores indígenas são pensadas de forma estratégica para fortalecimentos dos vínculos comunitários entre povos indígenas, mas também como forma de identificar e combater notícias falsas sobre a doença, sobre o vírus e sobre a vacina, além de ser uma potencial fonte de produção e distribuição de informações acessíveis e adequadas às realidades indígenas.

Resposta COVID na Amazônia – A USAID, NPI EXPAND e SITAWI formam a parceria para apoiar a Resposta à COVID-19 na Região Amazônica brasileira. A “NPI EXPAND Brasil: Resposta à COVID-19 na Região Amazônica Brasileira (fase 2)” é uma iniciativa que engaja organizações da sociedade civil (OSCs) em parcerias estratégicas para alavancar soluções inovadoras e escaláveis para fortalecer a resposta rápida a emergências e ao combate a COVID-19. A primeira fase da iniciativa, também conhecida como “PPA Solidariedade”, contou com a Plataforma Parceiros Pela Amazônia (PPA).

Essa parceria inovadora com o setor privado distribuiu mais de 23 mil cestas básicas e kits de higiene, capacitou mais de 500 agentes comunitários de saúde, doou mais de 1,4 milhão de máscaras feitas por costureiras locais e divulgou mensagens educativas de prevenção para mais de 875 mil pessoas na região.

A segunda e nova fase da iniciativa está promovendo maior resiliência das comunidades amazônicas através do apoio amplo a vacinação contra a COVID-19, de campanhas de informação e combate à fake News, fortalecendo os sistemas locais de saúde na região com equipamentos e insumos para detectar, prevenir e controlar a transmissão de COVID-19, bem como, treinar profissionais de saúde, realizar o acompanhamento de casos agudos de COVID-19 e tratar as sequelas de síndrome pós-COVID-19.

Fonte: https://iieb.org.br/comunicadores-indigenas-de-roraima-e-do-para-realizam-modulos-de-formacao-e-intercambio-sobre-comunicacao-e-covid-19/

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