Filme une imagens históricas e depoimentos de figuras-chave da luta pela garantia de direitos dos povos indígenas no Brasil; lançamento acontece no dia 3 de agosto

Ester Nascimento – Jornalista do ISA

As comemorações dos 30 anos do Instituto Socioambiental (ISA) não param. Com a programação especial “ISA 30 anos: Por um Brasil Socioambiental”, o ISA leva suas produções audiovisuais para a 13ª edição da Mostra Ecofalante de Cinema, que acontece entre os dias 1º e 14 de agosto de 2024 na capital paulista.

Para celebrar esse marco, além da exibição de oito obras produzidas pela organização, acontece a estreia de Mapear Mundos, filme com Beto Ricardo e Fany Ricardo, dirigido por Mariana Lacerda. Após a sessão, no dia 3 de agosto, no cinema Reserva Cultura de São Paulo, acontece um bate-papo com a liderança do Rio Negro, André Baniwa, a vice-presidente do ISA, Marina Kahn, e a diretora.

O longa-metragem articula imagens e vídeos do arquivo histórico do ISA com testemunhos atuais para rememorar os passos dados por organizações da sociedade civil na luta pela garantia dos direitos indígenas no Brasil, no contexto da ditadura cívico-militar, apoiando  as condições para a articulação do “capítulo dos índios” na Constituição Brasileira de 1988.

O regime ditatorial propagou a falsa ideia de que os indígenas estavam em decrescimento populacional e que a  Amazônia era um imenso “vazio demográfico”, argumento utilizado para efetuar a retirada forçada de povos indígenas de seus territórios e exploração de seus recursos. No começo dos anos 1980, Beto Ricardo, antropólogo, ativista, sociólogo e um dos fundadores do ISA, decidiu questionar essa ideia, inventando um método que comprovasse justamente o contrário, de forma científica.

Assista ao trailer:

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Beto, ao lado de  um grupo de pesquisadores, desenvolveram um sistema próprio para analisar a população indígena nessa e em outras regiões do Brasil , comprovando, por meio de dados, que os indígenas  não só não estavam desaparecendo, como suas populações cresciam. Assim, seus direitos deveriam ser permanentes.

“Aos poucos, a imagem dos índios extintos foi substituída por uma imagem da presença importante dos índios como sujeitos políticos promissores”, afirma Beto Ricardo, em depoimento durante o filme.

“Isso foi uma revolução. Entre você ter certeza absoluta de que [os povos indígenas] iam desaparecer e de repente você descobrir que eles não só não vão desaparecer, como serão uma minoria cada vez menos minoria, porque a população indígena estava crescendo mais do que a população nacional. Os índios eram, para todos nós, um resquício do passado. De repente, nós constatamos objetivamente que eles iam ser parte do futuro”, relembra em cena Márcio Santilli, presidente e sócio fundador do ISA.

Deputado Vigildásio Senna, da Bahia, leva para a tribuna a Câmera mapa elaborado pelo Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI), "Empresas de Mineração em Terras Indígenas
“Mapear Mundos” traz registro fotográfico de março de 1988 que mostra mapa elaborado pelo Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI), uma das organizações que deu origem ao ISA, que revelou o assédio de mineradoras às Terras Indígenas na Amazônia 📷 André Dusek/AGIL

O filme conta com outros depoimentos de protagonistas desta luta, como Fany Ricardo, sócia-fundadora do ISA e assessora do Programa Povos Indígenas no Brasil (PIB), Marta Azevedo, demógrafa e antropóloga, André Baniwa, liderança indígena do Rio Negro, Bráz França, liderança do povo Baré e ex-presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), e Dagoberto Lima Azevedo Suegu, antropólogo e liderança do povo Tukano. Bráz França e Dagoberto Suegu infelizmente vieram a falecer antes da estreia, em 31 de julho de 2023 e 11 de abril de 2023, respectivamente.

O longa-metragem refaz  os caminhos percorridos para o reconhecimento dos povos indígenas como sujeitos políticos detentores de direitos, destacando a mobilização durante a Assembleia Constituinte de 1987 para incluir no texto constitucional os artigos que versam sobre essa parcela da população.

A obra retrata ainda o processo realizado para a demarcação das Terras Indígenas na região do Alto e Médio Rio Negro, uma conquista do movimento indígena local e que contou com apoio do ISA – sobretudo na propagação de informações que explicavam o que a medida significava para a proteção e preservação dos territórios.

andre baniwa
André Baniwa visita comunidades em parceria ISA/FOIRN para explicar processo de demarcação de Terras Indígenas no Rio Negro, em 1997 📷 Pedro Martinelli/ISA

Sobre o período, Fany Ricardo ressalta a formação de uma rede de informação entre todos os grupos envolvidos, indígenas e não-indígenas, que se transformou em uma parceria duradoura: “Todos tinham o mesmo objetivo, que era o de fortalecer essas populações que estavam em risco”, destaca.

Para o grupo de pesquisadores, colocar os povos indígenas no mapa significava salvaguardar o futuro não só do Brasil, mas do mundo. Garantir a preservação dos conhecimentos ancestrais fundamentais para manter a floresta de pé.

beto ricardo no rio negro
Beto Ricardo, um dos fundadores do ISA, faz apontamentos em mapa no Rio Negro em 1997 📷 Pedro Martinelli/ISA
Atuação de Beto Ricardo contribuiu para a garantia de direitos dos povos do Rio Negro
Atuação de Beto Ricardo contribuiu para a garantia de direitos dos povos do Rio Negro 📷 Pedro Martinelli/ISA

Além da exibição na Mostra Ecofalante nos dias 3 e 8 de agosto, Mapear Mundos será apresentado no dia 10 de agosto como parte da programação da Exposição ISA 30 anos no Museu A CASA do Objeto Brasileiro, com a participação da diretora Mariana Lacerda, André Baniwa, Geraldo Andrello, antropólogo e sócio-fundador do ISA, e Silvia Futada, ecóloga e associada do ISA.

Uma parte da trajetória documentada ao longo do filme também foi retratada em “Uma Enciclopédia nos Trópicos”, livro escrito por Beto Ricardo em parceria com o jornalista Ricardo Arnt e lançado em abril deste ano. A publicação traz prefácio do escritor e ativista indígena Ailton Krenak, posfácio do jornalista Leão Serva e conta os bastidores de momentos marcantes da trajetória do antropólogo Beto Ricardo durante o período entre 1970 e 2022, em uma narrativa bem humorada e envolvente.

Fany Ricardo e Beto Ricardo durante a exibição de "Mapear Mundos" para convidados
Fany Ricardo e Beto Ricardo durante a exibição de “Mapear Mundos” para convidados, em dezembro de 2023, em São Paulo 📷 Claudio Tavares/ISA

Sobre a diretora

Mariana Lacerda é cineasta e documentarista natural de Recife (PE), formada em Jornalismo e mestre em História da Ciência pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Dirigiu Gyuri, filme feito ao lado de Claudia Andujar e Davi Kopenawa, lançado em 2020. Mais recentemente, dirigiu a série infantil para Tv Histórias de Fantasmas Verdadeiros para Crianças (2024) e o filme Eu sou uma arara (2023), ao lado de Rivane Neuenschwander, exibidos em festivais e mostras do Brasil, Alemanha, França, México e Colômbia.

Mostra Ecofalante de Cinema 2024

Reconhecida como o mais importante evento sul-americano para a produção audiovisual ligada às temáticas socioambientais, a Mostra chega à sua 13ª edição com cardápio composto por 122 filmes, representando 24 países. Ao longo do segundo semestre do ano, serão feitas itinerâncias em cidades do estado de São Paulo e em todo o país, com o objetivo de democratizar o acesso às obras excepcionais que incentivem o desenvolvimento sustentável do planeta por meio da educação e da cultura.

Confira a programação completa!

Assista às produções do Instituto Socioambiental na Mostra Ecofalante:

Mostra Ecofalante de Cinema 2024

Locais:

Reserva Cultural – Avenida Paulista n° 900, Bela Vista, São Paulo – SP

Centro Cultural de São Paulo (CCSP) – Rua Vergueiro nº 1000, Paraíso, São Paulo – SP

Entrada gratuita


Quinta-feira, 1 de agosto, às 17h15  – Sala 3 do Reserva Cultural 

Programação 1

O Brasil Grande e os Índios Gigantes

Panará, A Volta por cima dos Índios Gigantes

Terra Yanomami celebra 30 anos da homologação

Rionegrinas


Sexta, 2 de agosto, às 17h  – Sala 3 do Reserva Cultural 

Programação 2

Volta Grande 

Antes da Chuva

Rio Pardo, o retorno dos beiradeiros ao seu território

Sistema Agrícola Quilombola


Sábado, 3 de agosto, às 16h e às 17h30  –  Sala 2 do Reserva Cultural 

16h: Estreia de Mapear Mundos

17h30: Bate-papo sobre a atuação do ISA ao longo dos seus 30 anos, avanços e retrocessos em relação à garantia dos direitos dos povos originários, com a liderança do Rio Negro, André Baniwa, a vice-presidente do ISA, Marina Kahn, e a diretora Mariana Lacerda


Quinta, 8 de agosto, às 19h  –  Sala Lima Barreto do CCSP 

Exibição de Mapear Mundos


Terça, 13 de agosto, às 15h  –  Sala Lima Barreto do CCSP 

Programação 1 

O Brasil Grande e os Índios Gigantes

Panará, A Volta por cima dos Índios Gigantes

Terra Yanomami celebra 30 anos da homologação

Rionegrinas


Quarta, 14 de agosto,às 15h  –  Sala Lima Barreto do CCSP 

Programação 2 

Volta Grande 

Antes da Chuva

Rio Pardo, o retorno dos beiradeiros ao seu território

Sistema Agrícola Quilombola

Fonte: https://www.socioambiental.org/noticias-socioambientais/mapear-mundos-tem-estreia-na-mostra-ecofalante-de-cinema-2024

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