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A iniciativa Fotos para Rondônia une profissionais da imagem para arrecadar fundos para assistência aos povos da Amazônia. A imagem acima é um print da galeria online do projeto


O período de isolamento social tem se apresentado para a fotografia como um momento de reinvenção, de muita criatividade e também de solidariedade e união dos profissionais a algumas causas. Infinitas lives, cursos, festivais e exposições online, reuniões virtuais, sessões de fotos remotas, aplicativos, financiamentos coletivos, campanhas de vendas de fotografias fine-art para arrecadar fundos e doações e por aí vai. Um movimento que nos aproximou mesmo que diante do distanciamento presencial.

Na Amazônia, a primeira iniciativa de uma campanha para levantar doações para o movimento indígena durante a pandemia do novo coronavírus foi a da Imagens aos Povos, que reuniu dez profissionais da imagem para arrecadar doações para a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), que tem Sônia Guajajara, como principal liderança. A campanha se encerrou em maio, com a venda de 120 fotografias e 20 doações diretas.

Outra campanha também já encerrada foi a 120 Fotos para Belém, que reuniu fotógrafxs para arrecadar fundos para cinco instituições que atendem às populações em vulnerabilidade de Belém e seu entorno. Foram arrecadados 16 mil reais, revertidos em cestas básicas.

Iniciativas como essas demandam planejamentos estratégicos, planos de marketing, uma grande atuação nas redes sociais, prestação de contas, dedicação de tempo e a necessidade de um bom network para que as metas sejam alcançadas, como em um verdadeiro empreendimento.

Em 1º de setembro, surge uma nova campanha, reunindo um grande número de profissionais de diversos países, e não só os fotógrafos que atuam ou são da região amazônica. O Fotos para Rondônia é uma iniciativa que em seis meses pretende levantar doações para organizações como a Associação Kanindé, uma importante organização que trabalha em defesa dos povos indígenas e a Articulação de Suporte e Enfrentamento à Covid-19. À frente do projeto estão Marcela Bonfim fotógrafa e multiartista, responsável pela galeria e criação do site, Ederson Lauri, fotógrafo e professor da Universidade Federal de Rondônia, e Tulasi Resende, fotógrafa e psicóloga são alguns dos organizadores do projeto.

O projeto surgiu de uma demanda de algumas comunidades como a de Nazaré, e grupos de indígenas que enfrentam dificuldades diante da pandemia. “Quando você vê uma comunidade precisando de máscaras, de detergente, de água sanitária, álcool, são necessidades básicas que preocupam quem está na cidade, imagina quem mora no interior da Amazônia, como na região de Ji-Paraná, Porto Rolim e até mesmo na região de Alta Floresta no Mato Grosso. Ver isso gerou uma motivação para esse chamamento para uma ação ”, afirma Marcela. As comunidades sofrem com as distâncias, a falta de renda, e muitos não conseguem acessar os recursos dos programas emergenciais.

Um grupo de fotógrafos com experiências como a Fotografias por Minas, uma das mais bem sucedidas campanhas de engajamento que arrecadou mais de 236 mil reais em 40 dias, se somou aos profissionais de Rondônia. A partir dos inúmeros relatos de lideranças indígenas e comunitárias sobre as dificuldades que enfrentam, o ativismo que não vê fronteiras geográficas falou mais alto. Esta troca de experiências e a possibilidade de conhecer outros trabalhos foram o diferencial desse projeto para Marcela.

press-release da campanha Fotos para Rondônia, feito pela jornalista Ana Aranda, chama atenção para as necessidades e motivações da iniciativa: ”A articulação dos fotógrafos integra a Campanha de Articulação de enfrentamento ao Covid-19, promovida em todo o Brasil para a compra de alimentos, máscaras, material de higiene e outros itens essenciais para o combate da doença. A organização de costureiras de baixa renda para a confecção de máscaras é outra vertente do movimento”.

A empreitada reúne cerca de 95 nomes da fotografia contemporânea, seja documental, fotojornalismo, da antropologia visual e de fotografias de eventos. Inclui desde jovens promessas a nomes consagrados, como J.R Ripper, Kim-Ir-Sen e Marcia Charnizon. Profissionais de todas regiões do Brasil, radicados no exterior ou fotógrafos internacionais com perfis bem diferentes se unem para chamar a atenção para a Amazônia em meio à pandemia do novo coronavírus e a esta temporada de queimadas. Uma ótima oportunidade para conhecer trabalhos de fotógrafxs que não estão no circuito de galerias de artes e dos festivais de fotografia. E também para quem valoriza o colecionismo, pois as fotos terão impressões em padrão fine art, 20x30cm, acompanhadas de certificado de autenticidade, com valor fixo de 150 reais. As imagens doadas pelos fotógrafos e fotógrafas para a campanha serão entregues gratuitamente pelos Correios.

A ação vai atingir os povos indígenas de Rondônia, sul do Amazonas e noroeste do Mato Grosso, ou seja, a região que faz parte do arco do desmatamento, novamente muito afetada pelas queimadas. O que reforça o caráter emergencial para a ação. As compras são feitas pelo site https://www.fotospararondonia.com/.

Para Marcela, não é apenas uma questão de solidariedade, mas marcar uma posição de ativismo dos fotógrafos que se dedicam a documentar a região. A ação serve também para repensar as narrativas e a produção atual do que está sendo feito na Amazônia. E, não menos importante, refletir sobre a importância das imagens políticas, pois todos os que participam emprestam seu olhar e têm uma intenção política nas suas fotografias. Não tem como dissociar o que estamos vivendo nas nossas vidas com as nossas produções artísticas, conclui a fotógrafa.

  • Foto de Raphael Alves
  • Foto de Israel Vale
  • Foto de Andressa Zumpano
  • Foto de Marcela Bonfim
  • Foto de Pablo Albarenga
  • Foto de Ana Mendes
  • Foto de Avener Prado
  • Foto de Ísis Medeiros
  • Foto de Thaís Espinosa
  • Foto de Larissa Martins
  • Foto de Fred Junkes
  • Foto de Ederson Lauri
  • Foto de Alessandra França
  • Cianotipia de Paloma Gomide
  • Foto de Tseredzaro Rurio
  • Foto de Kim-Ir-Sen
  • Foto de Tulasi Resende
  • Foto de Raíssa Dourado
  • Foto de Kika Antunes
  • Foto de Beatriz barros
  • Foto de Júlia Pontés
  • Foto de Gabriel Bicho


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Alberto César Araújo – Possui graduação em Comunicação Social pelo Centro Universitário do Norte, Uninorte-Laureate (2014), é mestre pelo Programa de Pós-Graduação de Letras e Artes, Universidade do Estado do Amazonas, UEA (2018). Repórter fotográfico profissional desde 1991, trabalhou para os principais veículos de imprensa nacional e internacional como fotógrafo freelancer. Atualmente é editor de Fotografia da agência de jornalismo independente Amazônia Real, é também um dos ”nominators” do Programa 6X6  Global Talent da Fundação World Press Photo. Participou de mais de 30 exposições coletivas e individuais com destaque para: Rural-Urban (Somerset House, Londres, 2013) ; Ganadores del POY Latam (Centro Cultural Nigromonte, San Miguel de Allende, México, 2015) e Brics (OI Futuro, Rio de Janeiro, 2015). Curador das exposições “Amazônia, Os Extremos”, (2017) patrocinada por um prêmio concedido pela Missão Diplomática dos Estados Unidos no Brasil com apoio do Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos (ICBEU-Manaus) e do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA); “Olhando por dentro da Floresta (2018) no Icbeu Manaus; Atlas Momosyne (2019) Palacete Provincial em Manaus. Vencedor dos prêmios Esso de Fotografia 2001, Dom Helder Câmara, 2000, Fapeam 2011, HSBC de Sustentabilidade, 2011 e Carolina Hidalgo do Poy Latam 2013 na categoria Paisagem Humana.

 

Fonte: https://amazoniareal.com.br/a-fotografia-se-reinventa-e-se-une-na-pandemia/

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