Uiramutã (RR) fica praticamente toda dentro de reserva; 96% da população é indígena, segundo Censo
RECIFE
Uiramutã, no nordeste de Roraima, é a cidade com maior número de indígenas proporcionalmente entre todas as cidades do Brasil. 96,11% dos habitantes são identificados com a etnia.
A 289 quilômetros de Boa Vista, a cidade fica praticamente toda dentro de uma reserva indígena.

Os dados do Censo 2022 foram divulgados nesta segunda-feira (7) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Segundo os dados gerais do Censo, divulgado em junho, Uiramutã tinha 13.751 habitantes em 2022. Levando em conta o percentual, a cidade tem mais de 13,2 mil pessoas indígenas. A cidade é a décima maior dentre os 15 municípios de Roraima.
O estado é a unidade federativa com proporcionalmente mais indígenas do país (15,29% da população se identificou dessa forma. Em números absolutos, são 97.320 indígenas, o que o coloca em quinto no ranking.
Dentre as 10 cidades com mais indígenas proporcionalmente mo país, duas estão em Roraima: além da líder Uiramutã, Normandia ocupa a sexta posição, com 88%.
INDÍGENAS NO CENSO 2022
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Nas eleições de 2022, Uiramutã foi a única cidade do estado onde Luiz Inácio Lula da Silva (PT) saiu vencedor, com 68% dos votos —Jair Bolsonaro (PL) ganhou em todos os outros municípios de Roraima. No estado, o então candidato a reeleição recebeu 76% dos votos.
A cidade fica localizada na tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana. Também fica no município o ponto mais ao norte do país, segundo o IBGE.
A Terra Indígena Raposa Serra do Sol engloba a maior parte da área de Uiramutã. Para adentrar nesses limites, é preciso autorização.
“O município teve uma mudança muito grande ao longo da década de 2000 com a demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol a partir das determinações do Supremo Tribunal Federal. E esse foi o primeiro Censo a documentar em detalhes esse novo momento de ocupação territorial do município de Uiramutã”, explica Fernando Damasco, gerente de territórios tradicionais e áreas protegidas do IBGE.
No território de Uiramutã, estão presentes ainda o Monte Caburaí, com quase 1.500 metros de altitude, e o Monte Roraima, um dos mais altos do país.
O município tem dificuldades de acesso, porque a estrada para Boa Vista é, em parte, de terra, pela RR-319. São seis horas de viagem até a capital do estado, que também tem um contingente expressivo de indígenas —mais de 20,4 mil, o nono maior do país em números absolutos.
Os dados mais detalhados sobre a população ainda serão divulgados, mas o IBGE aponta que a essa presença de indígenas em Boa Vista provavelmente foi impulsionada por migrações para estudo ou trabalho.
O estado de Roraima também tem em parte de seu território a Terra Indígena Yanomami, que tem enfrentado instabilidades em razão do garimpo.

“Tem algumas situações de migração da Venezuela para o Brasil, com grande parcela de imigrantes sendo indígenas, e uma parcela muito grande de indígenas, nos municípios, são residentes na terra indígena Yanomami, com crescimento demográfico e questões que lhes afetam do ponto de vista da saúde, entre outros”, diz Damasco.
Uiramutã tem o menor núcleo urbano de Roraima. As principais atividades econômicas são a criação de animais, sobretudo o gado, mineração e turismo, impulsionado por cachoeiras. Duas delas são abertas aos turistas, como a Cachoeira do Urucá e as Corredeiras do Paiuá. Já as Cachoeiras da Andorinha e Tamanduá e o Vale dos Cristais precisam de autorização para entrada porque estão em território indígena.
A 840 metros de altitude, a cidade tem diversas serras e vales às margens dos rios Maú, Cotingo, Canã e Ailã.
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