Povo guarani kaiowá luta desde 1953 pela retomada de suas terras

Na semana passada, tivemos mais um episódio de extermínio indígena e o assassinato do indígena Alex Lopes, do povo guarani kaiowá. O fato foi filmado, mas o caso não teve a mesma repercussão nos jornais e na imprensa que o assassinato de Dom e Bruno. Eu me pergunto: algumas vidas valem mais que outras?

Mato Grosso do Sul, o estado onde vivem os guaranis kaiowás, é o primeiro no ranking de assassinato de indígenas. Essa violência tem raízes ainda mais profundas. Começa no período da colonização e se perpetua até hoje, com a expulsão dos indígenas e o avanço do agronegócio sob seus territórios.

Afinal, até hoje somos vistos como um empecilho ao “progresso”, quando na verdade somos a barreira que sustenta nosso planeta. Os povos indígenas são 5% de toda a população mundial e protegemos 80% de toda a biodiversidade. Através do nosso modo de vida e de nossa ancestralidade, lutamos com nossos corpos para manter a nossa sagrada floresta em pé.

O povo guarani kaiowá, desde que foi expulso, em 1953, luta pela retomada de suas terras, vendidas a pecuaristas da poderosa família Jacintho. “As ‘retomadas’ tiveram um elevado custo humano —com assassinatos e episódios de crueldade cometidos contra homens, mulheres e crianças indígenas”, como nos conta a EarthsightDe Olho nos Ruralistas.

À medida que reocuparam a Terra Indígena Takuara, iniciou-se uma batalha judicial. O que me faz pensar na rapidez com que o Judiciário funciona para os grandes latifundiários, enquanto os assassinatos dos nossos defensores seguem impunes. Os grandes poderes servem os ricos, e para nós a justiça nunca chega. O resultado disso é que foi decretado o despejo dos guaranis kaiowás das terras tradicionalmente ocupadas por eles, mas eles seguiram resistindo.

Foi quando o grande líder Marcos Venon foi morto. Assim como o assassinato de outros guardiões da floresta, o caso segue sem solução. Em 2010, finalmente o MP emitiu declaração reconhecendo o direito dos indígenas, mas duas semanas depois a ministra Carmen Lúcia suspendeu o processo com base na tese do Marco Temporal. É uma tese inconstitucional, que só reconhece as terras que estavam ocupadas por indígenas em 1988.

A Terra Indígena Takuara segue num limbo judicial, e a família Jacintho continua a lucrar com o genocídio dos guaranis kaiowás e a destruição da floresta. A família Jacintho está ligada ao desmatamento ilegal, invasão e exploração de terras indígenas, mas não são os únicos a lucrar com isso.

Este foi só um resumo da investigação feita pela Earthsight e De Olho nos Ruralistas. Convido a lerem toda a investigação e entenderem que o buraco é bem mais embaixo.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/txai-surui/2022/07/demarcacao-ja.shtml

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