Faleceu neste sábado (10), aos 54 anos, a ativista indígena amazonense Tuíre Kayapó, liderança histórica na defesa dos direitos dos povos originários, que ganhou notoriedade ao redor do mundo por seus atos de resistência à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Sua morte aconteceu por complicações de um câncer de útero.
Nascida no Amazonas, Tuíre Kayapó foi uma das ativistas que, em 1989, protestaram no 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, em Altamira (PA), contra a construção da usina. Em uma das diversas audiências públicas que marcaram o encontro, ela pressionou seu facão contra o rosto do então presidente da Eletronorte, José Antônio Muniz Lopes, alertando-o sobre o risco de submeter as comunidades da região à fome caso a barragem fosse construída.
A cena foi capturada por diversos jornalistas que cobriam o encontro, e repercutiu no mundo inteiro, dando visibilidade à polêmica envolvendo a construção da represa no Vale do Xingu. Ela e outros ativistas indígenas locais conseguiram prorrogar a construção por 20 anos, até que o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) autorizou a obra em 2009.
Com o anúncio de sua morte, diversas organizações de defesa e proteção dos direitos dos povos originários de pronunciaram em sua homenagem, incluindo a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). “Conhecida por sua defesa incansável pelos direitos dos povos indígenas e pela proteção das florestas, Tuíre se tornou um símbolo de resistência e luta por justiça, sendo precursora no protagonismo da luta das mulheres indígenas por direitos”, declarou o órgão governamental.
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) também prestou homenagem, referindo-se a Tuíre como “A mulher que parou Belo Monte com um facão”. “A Articulação dos povos indígenas do Brasil – Apib presta condolências aos familiares e ao povo mebêngôkré pela partida da nossa grande referência”, disseram em nota.
A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, relembrou a participação de Tuíre Kayapó em sua cerimônia de posse, e ressaltou que o episódio registrado de sua resistência à construção da usina de Belo Monte foi apenas um dos episódios de sua vida marcada pelo ativismo. “A guerreira Kayapó era incansável na luta pelos direitos do povo Kayapó, dos povos indígenas de todo o Brasil e na proteção do meio ambiente”.
A coordenadora da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas, Célia Xakriabá (Psol-MG) destacou a importância da ativista para as demais lideranças que decidiram trilhar seu caminho. “Tuíre Kayapó sempre será uma grande referência para todas nós, mulheres indígenas! Sua trajetória e luta nos encoraja na defesa da terra contra o garimpo e a mineração. Meus sinceros sentimentos à família e amigos”.
Autoria
Lucas Neiva Repórter. Jornalista formado pelo UniCeub, foi repórter da edição impressa do Jornal de Brasília, onde atuou na editoria de Cidades.
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